São Paulo, Brasil

Situação das mulheres e o futuro

Dois motivos me fizeram escrever este post. O primeiro foi o excelente vídeo que assisti no TED (que está disponível no final do texto) chamado Our century's greatest injustice (A maior injustiça do nosso século), por Sheryl WuDunn. E o segundo foi pelo texto Mexendo na Caixa de Abelhas, do blog Blogueiras Feministas.

Situação das mulheres e o futuro


Uma coisa que me chama muito a atenção na ficção científica é a quantidade de mulheres em papéis muito diversos. De guerreira sensual e liberada à quase assexuadas, marrentas e sem vaidades, enquanto os papéis dos homens são sempre os mesmos, carregados de um machismo muitas vezes escancarado. Você que é mulher deve pensar agora: "Mas do que diabos ela está falando?" e você homem pode pensar algo do tipo: "Lá vem aqueles textos feministas..."



Se falar da situação precária que muitas meninas e mulheres hoje se encontram é ser feminista então sejamos. As mulheres nas Américas e na Europa podem não perceber, mas no restante do mundo mulheres são mercadorias, são posses, produto de tráfico e estatísticas de organizações humanitárias. A África, a Ásia e o Oriente Médio registram níveis assombrosos de descaso com o gênero e são de longe a maioria da população mundial. Então, minha cara, se você vive nas Américas ou na Europa, considere-se com sorte.

Demógrafos hoje dizem que nestes três continentes - África, Ásia e Oriente Médio - existe um déficit de 100 milhões de mulheres. Não nascidas ou mortas, elas não fazem parte de sua sociedade. E quando uma nação tem completo descaso com grande parte de seu povo, ele mina seu futuro e corta as chances de se desenvolver. A mulher dá despesa, a mulher não precisa ir para a escola, a mulher não pode sentir prazer. Quantas e quantas vezes não ouvimos piadas machistas, dizendo que mulher não sabe dirigir ou que deveria dirigir fogão. Quantos comerciais de cerveja mostram mulheres boazudas bebendo à vontade, quando de fato a cerveja engorda e dá celulite? Ou seja, a mulher, mesmo aqui no Ocidente "desenvolvido" (e ponho aspas pois o abismo é mais fundo do que parece), é estatística, pois somos vítimas de um machismo e de um racismo disfarçado em lendas urbanas cotidianas, sentimentos de posse e privações. A mulher mesmo no Ocidente vive pressionada pela maternidade, pela família, pela carreira, pela dupla jornada, pelo companheiro ou pela ausência dele.

Bill Gates esteve na Arábia Saudita fazendo um círculo de palestras, não sei bem quando. E como todo país árabe muçulmano havia uma divisão no auditório. Cerca de 2/3 eram de homens e uma linha divisória à esquerda com um punhado de mulheres assistindo. Um dos homens ergueu a mão e perguntou se seria possível fazer da Arábia Saudita um país desenvolvido, uma referência regional em tecnologia. E Gates disse que não, a menos que incluíssem o restante da sociedade no projeto. Até no Brasil e nos Estados Unidos, grandes democracias, as mulheres são minoria nos círculos científicos. Lembro que li a entrevista da doutora Mayana Zatz, uma das maiores geneticistas do nosso país, onde ela relatava o preconceito dos colegas norte-americanos, enquanto fazia sua especialização, que a chamavam de enfermeira, em pleno século XX.

O que eu quero dizer com isso tudo? Num mundo que trafica mulheres a preço de banana, que extirpam seus clitóris para que não sintam prazer, que abortam os fetos quando a ultrasonografia aponta uma menina, o futuro não pode ser promissor. Estatísticas de órgãos mundiais em defesa dos direitos humanos mostraram que nações que investem na educação das garotas se desenvolve mais rápido. Por que? Por que somos mais inteligentes? Não, porque simplesmente foi concedido o mesmo acesso que os homens possuem e ambos podem produzir de maneira igual. Investir na educação das mulheres reduz a pobreza, o número de filhos abandonados e estimula a produção interna das nações. Não estou dizendo que iremos salvar o mundo, a questão é a igualdade de direitos, a igualdade que impede que mulheres se submetam às vontades dos dominadores, sejam eles quem for. O trecho abaixo explica bem o que eu quero dizer:

E eu só fico esperando que, em algum dia desses que ainda vão chegar, seja muito comum, simplesmente isso: cada um e cada uma, poder dizer sim e não. Mas poder de verdade, sem ficar com medo de ser chamada de “fácil” ou que “ele” não telefone de novo. Sem ficar com medo de apanhar. Sem ter medo de ser demitida. Sem ter medo de ser “desleixada”. Sem ter medo de ser “péssima mãe”. Sem ter medo de ser “encalhada”. Sem ter medo de ser ridicularizada. Sem ter medo de sorrir e ter rugas. Sem ter medo de comer, de beber, de rir, de amar. Sem ter medo de ser a mulher que quiser ser. Sem ter medo. (Leia mais)

Por isso, desta forma, pense no seu meio, ao seu redor, tente comparar a situação das mulheres na sua vida (mãe, irmã, esposa, amiga, namorada, avó), faça um comparativo entre as gerações e depois assista ao vídeo da Sheryl e veja a situação de meninas pelo mundo. Você perceberá que há realmente uma grande injustiça no século que liberou as mulheres de suas amarras.

Até mais!





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